Faltando uma semana para terminar, o mês de março já engrossa as estatísticas de acidentes fatais decorrentes de choques elétricos na Bahia: foram quatro casos, o primeiro, com o menino Luanderson Silva Alves, de 11 anos, quando foi ligar uma bomba de água na casa em que morava, no dia 3, no povoado Lajedo Grande, na zona rural de Retirolândia; no dia 9, em Ipuaçu, zona rural de Feira de Santana, Joacy Nunes Barreto, 59, manuseava uma tomada quando sofreu um o choque elétrico.
Nos outros dois casos, os eletricistas Leandro Almeida, 39, e Reginaldo Rocha, 46, morreram enquanto trabalhavam nas cidades de Tanquinho e Juazeiro, respectivamente.
Os acidentes recentes reforçam as estatísticas dos últimos anos, quando a Bahia esteve em destaque entre os estados que mais registraram mortes decorrentes de choques elétricos: foi a líder em 2023, com 61 casos, e voltou a ocupar a mesma posição no ano passado, com 79 mortes, segundo balanço anual que será divulgado esta semana pela Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel). E se distancia de São Paulo, que está na segunda posição, com 64 registros, apesar de liderar o número de ocorrências.
A Bahia acompanhou o cenário nacional, que teve um aumento de 11,6% no número de acidentes em 2024, comparado ao ano anterior, com 2.373 ocorrências registradas. A quantidade de fatalidades subiu de 674 para 759, um aumento de 12,6%, e os incêndios por sobrecarga elétrica, que já eram um alerta, deram um salto de 23,5%, de 963 para 1.205 casos.
“Desde que começamos a captar os dados, há doze anos, a Bahia aparece em destaque, pois é um estado grande, com muitos registros nas cidades do interior e na zona rural”, afirma Edson Martinho, diretor executivo da Abracopel.
E estes números podem ser ainda maiores, pois a captação dos dados é feita a partir da publicação nos diferentes tipos de mídia, e muitos deles não são notificados. Segundo Martinho, eles equivalem a cerca de 50% dos números reais, o que reforça a importância do papel da associação na conscientização da sociedade sobre os riscos da eletricidade e a necessidade de prevenção. Ele destaca, por exemplo, ações contínuas como a realização de palestras para profissionais do setor, campanhas junto às escolas e aos veículos de comunicação.
O crescimento de mais de 20% dos incêndios por descarga elétrica é destacado na pesquisa e está ligado à forma como nos comportamos dentro de casa. Quem não deixa o carregador volta e meia ligado a noite toda na tomada que atire a primeira pedra. A má utilização dos adaptadores de tomada (os famosos benjamim ou T) e extensões são apontados pelos especialistas como uma das principais causas deste tipo de acidente. Eles acabam sobrecarregando e aquecendo pontos específicos da rede elétrica, terminando, muitas vezes, em curtos-circuitos e incêndios.
O melhor, aconselha Martinho, é fazer a troca das tomadas, sobretudo em ambientes como cozinhas e banheiros. Outra questão a ser observada é a qualidade do que estamos comprando. Fios e cabos muito baratos, alerta, podem ter tido a quantidade de cobre reduzida, o que acaba influenciando em sua capacidade isolante. “O cobre tem um valor de mercado, então, se está muito barato, desconfie”, afirma, aconselhando que os consumidores se afastem de marcas muito desconhecidas e confiram se há o selo do Inmetro. Outra dica é pesquisar as marcas qualificadas no site www.qualifio.org.br.
Em relação à rede elétrica domiciliar, é importante estar atento que ela, assim como os aparelhos, tem prazo de validade. Além da revisão, o engenheiro eletricista Fábio Amaral afirma que o uso de um dispositivo de proteção, a exemplo do DR, é fundamental. Ele explica que o disjuntor desliga automaticamente a corrente elétrica em caso de fuga de energia, mas que no Brasil apenas 27% das residências possuem esse dispositivo.
“Muitas residências não possuem o dimensionamento adequado para o aumento de carga que ocorreu nos últimos anos, especialmente com a modernização dos equipamentos. Em muitos casos, os sistemas elétricos e o painel elétrico não foram atualizados, o que pode resultar em sobrecarga e até mesmo em riscos de curto-circuito. É importante que as instalações sejam revisadas por um profissional habilitado para garantir a segurança”, reforça Amaral, que é sócio da Engerey Painéis Elétricos.
Manter a calma
Mas quando o acidente acontece, aconselha o soldado bombeiro José Rosário, é preciso manter a calma para não piorar a situação. “Por isso, antes de socorrer a vítima é preciso desligar o disjuntor, para cessar a corrente elétrica, e evitar tocar na pessoa”, diz José Rosário, acrescentando que em casos mais graves é importante buscar ajuda através do Corpo de Bombeiros (193) ou da Samu (192).
Apesar dos acidentes com celulares não serem tão frequentes, eles acontecem sim, alerta o bombeiro, sobretudo pelo “superaquecimento” dos carregadores. “As pessoas cometem muitos descuidos, como usar carregadores não originais, deixá-los sempre ligados na tomada, falar e até dormir com o celular na tomada bem próximo do corpo”, enumera,
Quando uma situação de risco acontece nas ruas, a orientação de se afastar tem de ser levada ainda mais a sério. David Protasio, supervisor de Expansão da Neoenergia Coelba, lembra que a disposição dos pontos de distribuição e o perigo iminente dos fios de alta tensão já criam essa consciência de que é preciso distância. No entanto, ele diz que situações como empinar pipa ou construir muito próximo às redes podem resultar em acidentes. A distância mínima recomendada é 2,5 metros. Outras situações perigosas são o roubo de cabos e os gatos de luz.
A empresa ainda não fechou os dados de acidentes em relação a 2024, mas reconhece que a maioria deles acontece mesmo dentro das casas. Mas se você topar com uma fiação baixa ou no solo, o correto a ser feito é ligar para o 116, que uma equipe da empresa vai verificar e, caso necessário, fazer a desenergização da rede.
Fonte Atarde